Cozinha aberta VS cozinha fechada

Tem pensado em remodelar ou talvez mandar construir a sua casa de sonho? Uma das principais decisões que terá de tomar é se quer uma cozinha de conceito aberto ou fechado. As opiniões sobre estes dois tipos de cozinha diferem, e há vantagens e desvantagens em ambas. Vamos explorá-las para que possa tomar uma decisão baseando-se nas suas necessidades pessoais e no que deseja para o seu lar.

O design e a estrutura da cozinha têm mudado drasticamente ao longo dos anos: as casas e as famílias já não são tão grandes como outrora, e as necessidades de quem lá reside também se alteraram. A cozinha costumava ser a divisão da casa que existia apenas por razões funcionais de ordem prática, mas tornou-se agora no sítio central e no coração do lar. 

Na arquitectura residencial, “planta livre” é uma expressão que se refere a uma casa onde as áreas comuns foram agregadas através da remoção das paredes que separavam as divisões. O objectivo é juntar cozinha e sala de jantar, sala de estar e sala de jantar, ou talvez todas as três. A cozinha foi a última a juntar-se ao conceito; as salas de jantar e estar convergiram anos antes da cozinha.

Cozinha de conceito aberto | Apartamento em Lisboa | Reabilitado pela Neves & Ferrão

Conceito de cozinha aberta: os prós

A primeira coisa que eu gostaria de salientar é que uma cozinha aberta não tem uma parede que a separe de outros espaços (habitualmente a sala de jantar, a sala de estar, ou ambas) - o que significa que a cozinha estará completamente à vista de todos os residentes e convidados. Há imensa coisa que pode fazer na sua cozinha para exibir os seus dotes decorativos. Mas lembre-se: no que toca à decoração, a cozinha precisa de estar em sintonia com o resto da habitação. Não quer que a sua cozinha destoe do estilo do resto da casa. Pense em formas de criar uma harmonia entre cada espaço em termos de pavimentos, elementos decorativos e cores.

Este conceito é definitivamente o ideal para o convívio, pois poderá interagir com os seus convidados, mesmo enquanto prepara as refeições ou faz tarefas básicas na cozinha. Pessoalmente, acho que uma cozinha aberta cria um ambiente informal e acolhedor em casa. É perfeita para habitações pequenas, como apartamentos, pois fará com que estas pareçam maiores e mais amplas.

A luz atravessa o espaço muito melhor sem paredes adicionais, e eu diria que uma cozinha aberta parece mais glamorosa, mais luminosa e mais agradável à vista. Ter melhor iluminação é muito importante nos casos em que a luz natural é escassa.

Conceito de cozinha aberta: os contras

Agora que falámos sobre as vantagens, vamos debater as desvantagens. Primeiro, uma cozinha aberta terá necessariamente de ser arrumada e limpa mais rapidamente do que uma cozinha fechada, uma vez que passará a ideia, principalmente às visitas, de desordem ou sujidade, caso não a mantenha organizada durante o convívio. Isto acontece por ser visível do resto da casa. No entanto, pode alterar a forma como vê esta obrigação e tomá-la como uma motivação para manter a cozinha limpa e organizada com mais frequência do que normalmente manteria. 

Quando se trata de sons e odores, estes vão definitivamente parar à categoria dos contras da cozinha aberta, já que todos os barulhos e cheiros da cozinha (que está completamente exposta e não tem paredes a confiná-la) vão chegar a toda a casa. Por exemplo, actividades como usar a máquina da louça, lavar a louça à mão, usar uma batedeira, ou usar panelas, causarão bastante ruído - que não será agradável para um convidado ou residente que esteja a tentar ver televisão. Em relação a odores, refiro-me aos cheiros provenientes de cozinhar e frigir. Pode-se argumentar que este problema foi em muito reduzido com os recentes desenvolvimentos de exaustores, mais silenciosos e eficientes (“cooker hoods”).

Comparando duas cozinhas com área idêntica, numa cozinha aberta terá espaço de arrumação limitado, devido à ausência de paredes. 

Cozinha de conceito fechado | Imagem de Michal Jarmoluk da Pixabay  

Conceito de cozinha fechada: os prós

Uma cozinha fechada é perfeita para pessoas que gostam de cozinhar e preparar refeições com privacidade.

Se não lhe apetece limpar enquanto entretém os seus convidados, então isto é o ideal para si, porque a cozinha não é visível, mas sim fechada e isolada. Se está muito ocupado, pode simplesmente fechar a porta e a desordem na cozinha não o incomodará até que decida tratar dela.

Haverá mais espaço de arrumação devido às paredes adicionais nesta cozinha. Será um espaço independente porque é fechada, e isto trará mais margem de manobra ao escolher a decoração e cores. A cozinha pode ter o seu próprio tema, e não afectar nenhuma outra divisão.

Conceito de cozinha fechada: os contras

As cozinhas fechadas são completamente isoladas, e a pessoa que estiver a preparar refeições e bebidas ou a executar uma rápida tarefa na cozinha, será excluída da área de convívio e só poderá interagir com os convidados ou os outros residentes da casa quando terminar essa tarefa nessa divisão.

Em casas diminutas, como apartamentos, estas poderão certamente parecer mais pequenas. Limpar também se torna numa actividade executada a solo - não em todos os casos, mas é geralmente o que acontece se todos permanecerem na zona de convívio, por exemplo a sala de estar.

Cozinha de conceito aberto em exposição | Porcelanosa Lisboa

Cada um tem a sua opinião pessoal e preferência no que toca a estes dois conceitos. Não só depende da preferência, mas também das necessidades pessoais de uma pessoa. Vamos conhecer algumas diferentes opiniões sobre estes conceitos.

Vamos começar pelo conceito de cozinha aberta. Num blogue da Hausera, fala-se sobre planificar e conseguir uma cozinha aberta remodelando uma existente. É afirmado que o layout aberto é o ideal nos dias que correm. É muito mais conciliador para cozinhar e socializar. Existe um espaço amplo que facilita o cozinhar. E, como anteriormente mencionado, este blogue também refere como o conceito aberto soluciona o problema da luz reduzida, uma vez que se passará a contar não só com as janelas, mas também com a ausência de paredes que bloqueariam a luz.

No passado, era usual as famílias comerem numa sala de jantar formal e a cozinha não ser visível. O facto da cozinha ficar ao fundo da casa tinha também a ver com medidas de segurança: Não era assim tão raro um fogão pegar fogo. Hoje, por outro lado, usamos electrodomésticos modernos com rigorosos dispositivos de segurança.

Este blogue sublinha que os tempos mudaram, e assim é certamente. Os novos edifícios têm habitualmente uma cozinha aberta ou uma planta aberta. Há mais visibilidade e acessibilidade. Também facilita a decoração. Muitas pessoas preferem um ambiente mais relaxado e social quando se trata de cozinhar, onde os vários familiares acabam por cozinhar juntos na cozinha. Acrescenta ainda que, hoje em dia, parece ser mais agradável ter mais espaço visível assim que se entra em casa de uma pessoa. Os pontos essenciais quando falamos da cozinha são a funcionalidade, a acessibilidade e a aparência.

Conceito de cozinha fechada | Imagem de Deborah Flōden

Agora vamos falar sobre opiniões relativas ao conceito de cozinha fechada. Lloyd Alter escreveu um artigo sobre o caso em defesa da cozinha fechada. Ele defende que as cozinhas devem ser fechadas e não abertas.

Uma das razões pelas quais não gosta de cozinhas abertas é porque crê que não são compatíveis com o modo como as pessoas vivem e comem actualmente. Ele escreve no seu artigo: “Há pessoas para quem cozinhar é uma performance, mas para a maioria, trata-se de diferentes membros da família a usar pequenos aparelhos domésticos, que estão a proliferar, e precisam de um sítio onde se esconder.”

Ele refere-se ao texto de Kate Wagner sobre o caso em defesa das salas, onde ela descreve a “messy kitchen” (a “cozinha desarrumada”) como a esperança de uma transição em que espaços abertos voltem a ser fechados novamente. Uma “messy kitchen” é uma área da cozinha mais pequena escondida atrás da principal. É ali que se preparam refeições, se escondem aparelhos domésticos menos atraentes, se armazenam caixas de takeaway e, especialmente, se guardam os pratos sujos após a refeição, mantendo-os longe da vista. A cozinha principal, que é a cozinha visível, será usada para cozinhar, comer e conviver.

Kate Wagner obteve esta informação num ensaio de Ian Bogost. Nesse ensaio, Ian fala da planta aberta assim como da “messy kitchen”. A parte final chamou-me genuinamente a atenção e deixou-me a pensar. Cito o final do ensaio: “A este respeito, a planta aberta poderá representar a concepção de lar mais distintivamente americana possível: trabalharmos em vão contra exigências crescentes, impostas na sua maioria pelas nossas próprias escolhas, mas sempre insistindo que, na verdade, adoramos aquilo. É uma prisão, mesmo que seja uma sem paredes.” Valeu a pena ler isto, apesar da minha opinião divergir da de Ian.

Gostei de ler os textos de Kate Wagner, e ver a sua perspectiva foi cativante e de facto muito interessante. Ela acha extraordinário que as habitações estejam a ser planificadas à volta do “convívio” (que acontece apenas algumas vezes por ano) e considera isso supérfluo. Crê serem os novos avanços tecnológicos a causa pelo aparecimento do conceito aberto. É o que o tornou possível. Ela escreve, “Quando as pessoas o vão visitar, estão lá para o ver a si, não ao seu conceito aberto.” Também acredita que não separar o cozinhar do viver e do comer é um pesadelo acústico.

Tanto Kate como Loyd partilham as mesmas razões em relação ao seu conceito preferido, e apesar de eu não ter a mesma opinião, as suas visões dão que pensar.

Cozinha de conceito aberto em exposição | Porcelanosa Lisboa

Perguntámos a Vanessa Nogueira, da Neves & Ferrão, qual o conceito que prefere e porquê:

“Eu sem dúvida prefiro uma cozinha de conceito aberto. Gosto de um espaço aberto entre a cozinha e a sala de estar. Há muitas razões para isto, mas a principal é a comunicação entre os utilizadores em ambas as áreas comuns.

Este tipo de conceito facilita as coisas. Aproxima estas áreas conjuntas, permitindo aos utilizadores de ambas executarem diferentes funções, permanecendo, no entanto, perto uns dos outros. Tornou-se numa prática opção, tanto num registo de rotina diária, como em ocasiões especiais.

Além da comunicação, a casa parece maior em profundidade e terá um potencial para uma organização espacial que as cozinhas fechadas não têm. Quem é que não gosta de mudar a mobília de sítio de vez em quando, ou quem é que nunca teve de adaptar o espaço para acomodar um grande número de convidados? Com este conceito, o espaço ajusta-se, permitindo várias configurações e divisão de zonas com apenas a mobília.

A evolução dos materiais também teve um papel muito importante neste novo conceito. Esta evolução, tanto em termos de acabamentos como de novas possibilidades construtivas, trouxe um enorme leque de escolhas permitindo uma fácil conciliação da estética da cozinha com a do resto da casa.

Tenho muitas mais razões para a minha preferência. No entanto, a mais importante é a adaptação do conceito da cozinha, tanto aberta como fechada, ao seu utilizador, uma vez que todos experienciamos o espaço de forma diferente.

Novos conceitos e modas reflectem novas formas de experienciar espaços, mas no final de contas, o que realmente importa é como é que cada pessoa se sente no espaço em que habita.”

Eu gostei do blogue Hausera sobre cozinhas de conceito aberto porque concordo com o que lá está. Já vivi em vários apartamentos, e todos tinham uma cozinha aberta. Fazia o apartamento parecer mais espaçoso e luminoso, e desfrutei mesmo do tempo passado em família a cozinhar, limpar ou apenas a fazer café uns para os outros. Não teria desfrutado tanto numa cozinha fechada. A cozinha é mesmo o coração da minha casa. Escolherei sempre uma cozinha aberta, não importa quão barulhenta ou desarrumada possa ficar! Para todos os leitores que preferem uma cozinha aberta, que tenham muitas ocasiões sociais barulhentas e desarrumadas no futuro – eu sei que terei!